quarta-feira, 12 de maio de 2010

Se Eu Fosse Mais Velho...

SE EU FOSSE MAIS VELHO ...

Eu diria aos mais jovens que desistam do sonho de galgar a fama em nome de Deus. Contaria que já presenciei o desespero de alguns que, tendo almejado se destacar como referenciais de sua geração, vieram a descer do trem fatigados e destruídos pelo ônus da fama. Descreveria os bastidores de algumas “grandes” agências evangelísticas e de outras para-eclesiásticas, e como me enojei com a petulância de alguns evangelistas famosos. Falaria de minhas lágrimas, quando um deles afirmou que passaria por cima de qualquer pessoa desde que conseguisse estabelecer o que chamou de “reino de Deus”. Incentivaria os jovens a buscarem uma vida discreta, sem o glamour do mundo, a preferirem a senda do Calvário. Pediria que optassem por beber o cálice do Senhor em vez de desejarem os louros da glória humana.

SE EU FOSSE MAIS VELHO...

Eu alertaria aos mais jovens que ambicionam subir os degraus denominacionais sobre o perigo de chegar ao topo sem alma. Narraria os conchavos da política eclesiástica como ridículos e fúteis. Candidamente, contaria casos de traição, logro e delação nas reuniões secretas de algumas cúpulas religiosas. Pediria que fugissem da ganância pela autoridade institucional. Ensinaria a desejarem autoridade espiritual, que não vem de negociatas, mas de uma vida piedosa e íntima com Deus.
 
SE EU FOSSE MAIS VELHO...

Diria aos mais jovens que não se iludissem com o academicismo. Eu lhes revelaria como alguns acadêmicos usam da erudição para se esconderem de Deus. Não teria medo de mostrar que muita bibliografia citada em rodapé de página vem de uma vaidade boba. Algumas pessoas buscam se mostrar mais cultas do que na verdade são. Diria que certos eruditos são pessoas insuportáveis no contato pessoal e que eles também padecem dos mesmos males que todos nós: intolerância, indiferença e muita, muita soberba. Contudo, eu lhes pediria que fossem amigos dos livros. Pediria que lessem muito e diversificadamente; que usassem o conselho de Tiago na busca da sabedoria: “Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras. A sabedoria, porém, lá do alto, é primeiramente pura; depois pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento”. (Tg 3.13, 17.)

SE EU FOSSE MAIS VELHO...

Eu diria aos mais jovens que tomassem muito cuidado para não gastarem todas as suas energias nos primeiros anos de ministério. Exortaria, ilustrando o serviço a Deus como uma maratona e dizendo que não adianta se apressar nos primeiros anos. Contaria os exemplos de tantos que se arrebentaram antes da linha de chegada. Quantos pastores destruíram suas famílias e seus filhos no afã de serem úteis e produtivos! Quando chegaram os anos da meia idade, já estavam estressados e cansados! Falaria daquele dia em que o meu semblante descaiu ao ouvir um pastor dizer que só não saía do ministério porque, já muito velho, não sabia como retornar ao mercado de trabalho. Pediria que não perdessem a oportunidade de passear com os filhos no parque, de ler livros que não os úteis ao ministério, de curtir a sua mulher e de praticar algum esporte. Eu pregaria um sermão baseado em Mateus 16.26 e explicaria que, para Jesus, perder a alma tem um sentido mais amplo do que simplesmente morrer e ir para o inferno. Basearia minha mensagem na afirmação de que um pastor ou evangelista pode ganhar o mundo inteiro e acabar perdendo os afetos do cônjuge, os sentimentos dos filhos e dos amigos, a auto-estima, o sorriso, a capacidade de amar a poesia e de cantar canções de ninar. Enfim, perder a alma!

SE EU FOSSE MAIS VELHO...

Eu diria aos mais jovens que não desejassem o espalhafato espiritual nem as demonstrações exuberantes do poder carismático. Revelaria que alguns desses evangelistas americanos que muitos acreditam superungidos passam a tarde na piscina do hotel em que se hospedam, antes de encenarem a sua superespiritualidade em megaeventos. Não temeria denunciar alguns que se trancam em seus aposentos para assistirem a filmes na televisão e logo depois sobem às plataformas com o ar de santos da hora. Não hesitaria em alardear que muito daquilo que se rotula como demonstração de poder espiritual nasce de uma mentalidade que busca levar as pessoas a uma falsa euforia religiosa.

SE EU FOSSE MAIS VELHO...

Eu diria aos mais jovens que a sexualidade é terreno minado e cheio de armadilhas. Contaria exemplos de ministérios que ruíram pela sensualidade. Alertaria que o grande perigo do sexo não vem da beleza, mas da solidão e do poder. Muitos pastores naufragaram em adultério porque se sentiram sós. Não tinham amigos verdadeiros. Viviam rodeados de assessores, sem um amigo com quem pudessem abrir o coração e pedir ajuda. Eu incentivaria os mais jovens a desenvolverem amizades, preferivelmente fora de seus quintais denominacionais. Suplicaria que fizessem amigos com coragem de falar coisas duras, olhando nos olhos. Lembraria que são fiéis as feridas feitas por aquele que ama.
 
SE EU FOSSE MAIS VELHO...

 Eu diria aos mais jovens que tomassem cuidado com os modismos teológicos, ventos de doutrina e novidades eclesiásticas. Falaria das inúmeras ondas que varreram as igrejas com pretensas visitações de Deus. Vermelho de vergonha, lembraria aquele culto em que se alardeou que Deus estava trocando as obturações por ouro. As pessoas se sujeitavam ao ridículo de investigarem a boca umas das outras e depois, ao confundirem as restaurações amareladas de material de baixa qualidade com ouro, saíam proclamando um milagre de Deus. Relataria a pobreza doutrinária daqueles que jogaram os evangélicos na paranóia da guerra espiritual e ensinaram às mulheres a vigiarem mais durante a menstruação por haver demônios que se alimentam daquele tipo de sangue. Imploraria que se mantivessem fiéis ao leito principal do evangelho, à doutrina dos apóstolos; que não deixassem de pregar a Cruz do Calvário.

SE EU FOSSE MAIS VELHO...

Eu diria aos jovens que não procurassem imitar ninguém. Lamentaria a tentativa patética de alguns líderes de quererem ser clones de pastores e evangelistas de renome. Mostraria vários exemplos ridículos de igrejas que tentaram reproduzir no sofrido Brasil o modelo de igrejas abastadas dos subúrbios americanos. Admoestaria que soubessem aceitar-se. Pediria que não ficassem procurando repetir gestos, neologismos, tom de voz e maneirismos dos outros, pois acabarão sem identidade. Eu mostraria na Bíblia que Deus não nos cobrará por não havermos ensinado com a destreza de Paulo, ou nos portado com a ousadia de Pedro, ou escrito com o mesmo amor de João. Teremos de prestar contas ao Senhor apenas por não termos vivido nossa própria identidade.
 
SE EU FOSSE MAIS VELHO...

 Diria aos jovens que a obra que Deus tem para fazer em nós é muito maior que aquela que Ele tem para fazer por meio de nós. Diria que somos preciosos como filhos e não como servos. Melancolicamente, falaria que na velhice muitos sentem saudade dos tempos que poderiam ter sido íntimos de Deus, mas acabaram chafurdados nos pântanos de sua própria vaidade. Diria que na velhice muitos choram por saberem que o tempo da partida está próximo e que não escolheram a melhor parte, como fez Maria.


Eu deveria ter esperado para dizer essas coisas quando estivesse mais velho. Por impetuosidade, acabei dizendo antes do tempo. Contudo, acredito que não me arrependerei de tê-las dito agora.

Por: Ricardo Gondim

Extraído da Revista ULTIMATO (Novembro-Dezembro, 2002)


Em Cristo, que nos oferece o leite racional para que cresçamos mais e mais na fé.


domingo, 2 de maio de 2010

Uma Adoração que não é Exclusiva

E era necessário passar por Samaria" - João 4:4

Após sair da Judéia indo outra vez para a Galiléia, Jesus se viu numa obrigação necessária. O de passar por Samaria. Esta necessidade, não era simplesmente uma consideração geográfica, mas uma compulsão divina. Jesus cansado pelo longo caminho que percorrera, observa que uma mulher Samaritana vai até o poço de Jacó tirar água, e ali, se depara com a necessidade de ser a pessoa certa, no momento certo. Usando a necessidade daquela Samaritana em coletar água do poço, faz um pedido constrangedor: "Dá-me de beber".

A mulher que vivia aprisionada pelas barreiras sociais e raciais, pois, em primeiro lugar, um homem jamais pediria algo a uma mulher estranha, e segundo, Jesus sendo Judeu, era de um atrevimento muito grande pedir algo a uma Samaritana por conta da rivalidade que existia entre ambos. Mas como o foco de Jesus, era libertar exatamente todo preconceito, rivalidade, ódio, regras e leis que separavam o homem de Deus e de seus semelhantes, o Mestre encontrou naquela necessidade humana por água, uma oportunidade de oferecer a Água da Vida.

O assunto fica mais interessante, quando a mulher passa a questionar o local correto para adoração. Acostumada e orientada a adorar a Deus no Templo construído no Monte Gerizin, no qual os samaritanos construíram como um lugar de adoração rival, pois eles não eram bem vindos no Templo em Jerusalém, o que aparentava que as suas adorações ao Altíssimo Deus, era exclusividade apenas dos Judeus legítimos, que faziam suas peregrinações ao Templo em Jerusalém. Ela, talvez, esperando ouvir do Mestre, um judeu legítimo, que a adoração ao Pai Celestial, era exclusividade do Templo em Jerusalém, ela é impactada com uma palavra em que o tempo chegado era "que os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade".



A partir daquele momento, o Filho de Deus enfatiza que a adoração a Deus, não era mais privilégio de um povo, de uma nação, de uma etnia, não era mais exclusividade dos judeus, nem, tampouco, dos Samaritanos. "Nisto não há judeu nem grego; circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos." Colossenses 3:11

Bastou àquela mulher ser livre das algemas samaritanas, que tanto a menosprezava por ser considerada uma "judia fajuta", que logo ela largou o seu cântaro, e foi até a cidade revelar aos seus visinhos do encontro que ela teve com um homem muito especial. Bastou o Mestre ficar dois dias em Samaria, para os samaritanos afirmarem para aquela mulher sedenta " já agora não é pelo o que disseste a nós, mas porque nós mesmos ouvimos e sabemos..."

Pronto! Agora toda Aldeia de Samaria estava impactada pelas doces Palavras de Jesus Cristo. Não porque ouviram o testemunho da mulher, mas sim, porque eles mesmos foram testemunhas oculares do Jesus do testemunho. Tornaram-se adoradores porque beberam direto da fonte de Águas vivas.

E sabe o que me alegra em ser considerado um verdadeiro adorador? É que não preciso fazer peregrinações ao GMUH para ser abençoado, nem tampouco, participar de palestras sobre adoração, ou ouvir testemunhos de pessoas que um dia foram impactadas pelo Mestre.

Eu sou um verdadeiro adorador porque bebi da Água da Vida direto da fonte.

Eu sou um verdadeiro adorador porque eu não precisei basear as minhas experiências com Deus pelo que ouvi de outros, e sim, porque minha fé está embasada numa experiência particular e íntima com o Autor e Consumador da minha Fé.

Eu sou um verdadeiro adorador porque não adoro a palavra de Jesus (bibliolatria também é pecado), mas porque adoro o Jesus da palavra.

Eu sou um verdadeiro adorador porque faço das minhas experiências e testemunhos, um quinto evangelho para aqueles que ainda não se encontraram com o dono da Fonte de Águas vivas.

Em Cristo, que ficou 2 dias em Samaria e trouxe grande alegria para aquela cidade, e está a mais de 2 mil anos conosco nos promovendo alegrias constantes.